segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sinceridade


Um dia, perguntei para um psiquiatra: sou bipolar? Ele me disse: de bipolar você não tem nada. Você é sincera e tem sentimentos intensos. E me explicou a origem da palavra sincera: "sem cera". Antigamente, carpinteiros e escultores usavam cera para disfarçar os defeitinhos de esculturas e móveis de madeira. Então, eles lixavam, passavam verniz e tudo ficava aparentemente perfeito e em ordem. O aspecto das peças era magnífico. Com o passar do tempo, do frio, calor e uso, a cera ia se desmanchando e os defeitos iam ganhando vida. Sinceridade é "sem cera", ou seja, sem máscaras, sem retoques, sem querer ser o que não é. Achei bonita a explicação dele. E triste. Dói ser "sem cera".

A vida maltrata quem sente demais. Quem sente demais acaba sofrendo mais que a maioria das pessoas. Tudo importa, tudo é exagerado, tudo é sentido de corpo e alma. Alma, principalmente. Pessoas "sem cera" têm a alma do tamanho de um bonde. Não acho que eu seja a pessoa mais sincera do planeta. Eu minto de vez em quando. Tenho defeitões. Mas eu sempre agi de acordo com meu coração, meu instinto, meu amor pelas coisas. A gente precisa ter amor pelas coisas. E raiva também, pois nem só de amor e sinceridade se vive.

(por Natasha Araújo)

3 comentários:

  1. eu sei bem o quanto dói a vezes ser "sem-cera", mas prefiro que seja assim, afinal, se não for assim, de que vale a vida?

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  2. Penso igual. As ideias da Natasha são sempre muito sensatas.

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  3. vim pela expressividade da foto e amei o texto. Tenho um bloger tbm que por acaso o tema é ...Sem cera.rsrsrsr se quiser passa por la e comenta. grande abraço.
    http://semceraeponto.blogspot.com/

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